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Nervoso Miudinho

blog humorístico (esperemos) sobre tudo e mais frequentemente sobre nada

29
Set17

O pai

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Ainda não lhe dediquei um Post em exclusivo, falei dele aqui e aqui.

 

Ele é pai, tem um papel e um mérito próprio. É tudo o que eu achava que um pai devia ser e mais. Não me ajuda. Aliás nunca me ajudou, desde que fomos viver juntos. Não sabia fazer nada, nem estrelar um ovo (na verdade ainda não estrela ovos, mas faz omeletes muito melhor que eu). É muito especial vê-lo como pai sem descurar o papel de meu namorado, não achei que fosse possível ser surpreendida com mais sentimento, e estar aqui a falar a sério e numa de lamechas. 

Construímos a nossa vida em comum à nossa medida. Aprendeu a cozinhar, muitas noites esperei calmamente até às 22 horas pelo jantar e ainda hoje cozinhamos juntos. Gosta de cozinhar, gosta de ser auto suficiente em casa porque sempre trabalhei à hora de jantar e fim de semana e ele fazia manjares para si, para jantar sozinho. É profissional a lavar a cozinha, meticuloso a limpar. Esta parte da nossa vida não aconteceu, foi trabalhada em conjunto, resultado das minhas expectativas de vida e das dele, depois de conversa. Sabem, acho que muitas mulheres perdem a alegria de vida por estarem sobrecarregadas, perdem interesse no quarto e se desligam do relacionamento e se ligam aos filhos. Não é isso que queremos. Pode acontecer na mesma, certo, mas estamos preparados para combater isso.

Veio a gravidez e a minha impossibilidade de fazer as coisas cá em casa e ele calma e alegremente ficou com a carga toda.

Como pai tem ideias próprias, até na escolha de padrinhos tivemos igualdade, cada um escolhe um. É isto que eu acho normal e salutar. Ele quer filhos, tem o seu papel, que não nem de longe o de ajudar a mãe, há um papel, o de pai, pleno de sentimentos, participação e responsabilidade. Ele encontra felicidade a desempenha-las como eu. Aprendemos os dois a tratar dele os dois, ganhámos os dois rotina de vestir, trocar, dar banho, adormecer, confortar, muitas mães falham aqui e não permitem envolvimento do pai, depois um dia eles perdem iniciativa e perdeu-se a oprtunidade de envolvimento total. Tivemos um evento e tivemos de preparar a mala dele para o dia, e eu naturalmente com a rotina de amamentação e o trabalho extra de cabelos e afins deixei a mala meia pronta. Chegamos à igreja e perguntei se tinha colocado o que estava na mesa dentro do saco. Não colocou e tivemos de vir a casa, calmamente lhe disse que não queria ser este tipo de casal, que eu tenha de pensar em tudo do bebé e que só eu tenho tratado da mala da fralda, é muito para pensar. Não somos perfeitos nem queremos ser, o cansaço vai fazendo das suas. Acedeu e esse pequeno problema nunca mais aconteceu, quem tem tempo verifica que a mala tem o stock de necessários.

Embora esteja a trabalhar vai acordando de noite e de vez em quando é ele que o põe a arrotar e espera para o por no berço, troca a fralda. Sabe que por estar em casa não quer dizer que descanse, aliás é o contrário, estou sempre com ele e tenho pouco tempo para mim, fazendo o que posso pela lida doméstica. 

É um pai, é um sonho de pai. Podemos não resultar a muito longo prazo mas isso não apaga quem foi e quem é para mim e para nós. 

15
Mai17

Não quero estar sempre ligada

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Mas acabo por reflectir e ficar algo indignada com o discurso na aula de preparação para o parto. " Deixem tudo preparado, não vão querer o pai a mexer na roupa do bebé" "a sério, deixem um saquinho à parte e escolham roupa fácil que a primeira roupinha é o pai que a veste ao bebé " "quando começarem as contrações podem fazer umas limpezas que até ajuda e ficam com a casa limpa para quando voltarem com o bebé ". 

Eu optei por ter filhos com um homem adulto pleno de capacidades. porque se insiste no molde de tratar os homens como deficientes ou incapazes de tratar dos filhos? Fazem dos pais uns acessórios que estão lá para "ajudar". Já vos disse que não, não aceito essa palavra. Ele não me ajuda. Eu não tenho muita "sorte". Ele tem um papel próprio. A sorte que eu tenho trabalhei por ela, temos ambos sorte de ter um relacionamento forte, honesto, cúmplice e feliz. O que me irrita este discurso que a enfermeira repete sem perceber o sexismo gritante, a confirmação e perpetuação destes preconceitos. As mulheres são grande parte do problema. Gostam de se queixar que fazem tudo, acabam por ter relacionamentos desconectados e incompletos mas são as primeiras a educar os filhos neste sentido, a criar estes hábitos com namorados e maridos. É suposto eu ter um habilidade natural para vestir um bebé? Ou tratar dele? Ou foi imposto pela sociedade, nos brinquedos que me foram dados a ver se estimulava o meu papel. Oferecemos às meninas mini ferros, e cozinhas, e nenucos e os homens que explorem a ciência e a aventura. Azar dos azares, eu sempre brinquei com carros, pratiquei desportos mesmo dentro dos vestidinhos que uma menina devia vestir e joguei com consolas. Vamos pensar nisto. Vejo tantas mulheres que se perdem nos filhos e nas tarefas porque assim o escolheram, qualquer migalha de "ajuda"  do pai e são as primeiras a bater no peito e dizer que têm muita "sorte" e depois os filhos crescem e saem e ficam sozinhas em relacionamentos estragados pela responsabilidade que não é partilhada.  

03
Abr17

Babymoon

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Um termo novo e catita para dizer que vamos fazer uma escapadinha os dois antes de nascer o bebé, vamos agora na Páscoa. Nada de loucuras, porque não posso andar de avião, nem fazer viagens longas de carro. O importante é sairmos da rotina, não nos preocuparmos com refeições ou horas e aproveitamos a companhia um do outro sem deveres domésticos. O sítio está escolhido e estou ansiosa porque já estou a precisar há muito tempo, aliás agora em Março tinha sido óptimo, porque já estava a acusar cansaço de estar sempre em casa, mas também já falta pouco. 

28
Mar17

Viver uma gravidez de risco #2

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O primeiro trimestre foi o período de maior angústia, sem dúvida, não sei como o tempo passou, porque foi completamente tingido a preocupação, evitamos praticamente todas as confraternizações de amigos e família. Os sintomas são mais ou menos esperados, mas muito pouco claros, recorri ao amigo Google, e a uma aplicação de telemóvel que foi uma companhia indispensável, o Nurture. Nesta aplicação temos o desenvolvimento do Feto/embrião a cada dia, os sintomas esperados, a sua explicação e muitos testemunhos de várias mulheres, vamos preenchendo o diário com todos os sintomas que vamos sentindo, e préviamente colocamos a nossa história, o que selecciona histórias parecidas com a nossa, acreditem que ajuda muito, pessoas que passaram pelo mesmo. Quanto aos sintomas foi a melhor coisa, quando tinha um sintoma novo que me assustava, não tardava um/dois dias que a aplicação explicava o que era. Para mim, as dores, eram assustadoras, recolhia sempre em repouso absoluto à mínima dor, porque os dois primeiros abortos começaram com dor. (Ainda hoje o faço, na dúvida, repouso maior.) O útero a crescer, a obstipação, e gases causam o mesmo tipo de dor mas não tinha como distinguir entre as dores. A obstipação é um problema real e recorrente a gravidez toda. As dores nas ancas, que me acordavam, normal também, é o crescimento. As dores nas virilhas, como um relâmpago, isso é que assustou mesmo muito,  não imaginam, lá estava na app, dores nos ligamentos que sustentam o útero à parede abdominal, normal também, consequência do crescimento. As náuseas e vómitos, foram bem marcados. Como da terceira gravidez os sintomas pararam ao mesmo tempo que a evolução da gravidez, celebrámos os vómitos. Sério. É isto. Ficava agoniada, vomitava e depois ficava feliz por ter vomitado. Diariamente. Mandava mensagem para ele, todos os dias, vomitei, reposta dele: Yay. Até sentir o bebé, às 16 semanas, era este o meu barómetro de estar tudo bem, muito falível, eu sei, mas era um óptimo placebo. Até que os vómitos começaram a ficar muito agrestes e ficava com medo de estar a fazer demasiada força ou algo no género. 

 

O nosso relacionamento não sofreu com a gravidez de risco, fortaleceu-se (ainda) mais. Eu não posso fazer esforços, portanto é ele que faz praticamente tudo em casa, até a companhia que lhe fazia durante a elaboração do jantar sofreu, as náuseas que sofri impediam completamente cheirar carne e peixe por cozinhar. O que valorizo é a atitude dele, o carinho, porque sacrifícios estamos a fazer os dois, para mim o normal num relacionamento é isto. Quem diria que não poder aspirar quando me apetece me iria custar. Escolhi-o por ele ser assim, não há ajudas, há uma casa para cuidar e somos dois que o fazemos de igual modo porque ambos temos empregos a tempo inteiro. Cada relacionamento funciona à sua maneira, há muitas formas de resultar, mas para mim era impensável uma relacionamento em que eu tratava de tudo da casa e o que ele decidisse fazer era uma "ajuda" e eu ficaria agradecida, ou até tinha muita sorte. Ele anda sobrecarregado, sem dúvida, mas eu também, eu não posso trabalhar nem sair, passo o dia sozinha, ainda que fale com amigos, mas não é o mesmo que sair para trabalhar todos os dias, não posso beber/comer o que me apetece, depois do episódio da urgência até para tomar banho tinha de esperar que ele chegasse a casa. 

14
Fev17

Dia dos namorados

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Acho que já festejámos. Tenho quase a certeza. O que chamar a um dia destes em que adormeci no sofá antes dele chegar de trabalhar e acordei com ele na cozinha a acabar de cozinhar lagosta para mim? Lagosta em manteiga, com batata, espargos,  cogumelos e salada. Se isso não é festejar o amor com uma surpresa, o que é? 

Foi mais ou menos isto com as alterações que ele fez. 

butter-poached-lobster-with-asparagus-and-new-pota

 

19
Jan17

Coisas dele

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Muito me rio com ele. Tudo o que tenha que ser feito à pressa tem um potencial de desastre enormíssimo. Tínhamos decidido comer polvo, após ele se ter oferecido para ir comprar carne para hambúrguer ao talho. Lá lhe disse que tinha colocado polvo a descongelar. Chegou a casa. Tinha ido ao talho, "conforme tínhamos combinado". Ok, a semana toda a comer peixe, interpretei como desejo inconsciente do nosso hamburguer com brie e cebola caramelizada. Mesmo no fim da confecção lembrei-me da salada. Enquanto eu empratava e trazia tudo ele ficou a fazer a salada. Pepino cortado fino em vinagre, gostamos muito. Diz ele, vou guardar metade senão é muito só para esta refeição. Começamos a comer. Comi vários pedaços e fiquei a matutar. Ao décimo pedaço. Isto não é pepino, é courgette. Riso total, diz ele, não pode ser. Ai pode mesmo, ora olha com atenção. Teve que ir à cozinha ver o pepino para se acreditar em mim. 

17
Jan17

A dois

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Ele com o seu distinto adormecer em 30 segundos sente-se seguro e amado. Eu observo, na escuridão, e reflicto na sorte que tenho. Na facilidade das gargalhadas a dois, no quanto nos divertirmos e quantas horas perdemos a conversar e na quantidade de vezes que pensamos exactamente o mesmo. Ele começa a ressonar. Eu dou-lhe um leve jeito. O ressonar continua em crescendo. Não posso viver assim, isto não é vida, não aturo este homem, já estou aqui há mais de meia hora a tentar adormecer, tarda nada vais é para o sofá sua betoneira desafinada. Segue cotovelada que o acorda enquanto lhe digo em tom tudo menos delico-doce: estás a ressonar. 

03
Jan17

Perda de privilégios

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Com o susto na urgência, e mesmo a grande sorte no meio do azar. E as minhas piadas mesmo sentadinha na cadeira de rodas e feita num oito, o meu público foram quatro médicos. Os gajos riram, as gajas estavam entre o choque e o riso. Bom, depois disso vieram os cuidados redobrados e muitos dias em que me senti uma criança que não faz nada. Ele não me deixava fazer nada sozinha, foi um amor, sempre preocupado.  Mas, há sempre um mas. Não podia levantar-me a meio da noite sozinha sem o acordar para me acompanhar. E a insistência dele em me ajudar quando está acordado transforma-se em persistência para continuar a dormir quando faço o que ele insiste que é acordá-lo. 

- Tens aí água? 

- Sim (modo zombie) 

- dás-me por favor? 

- não.  

Eu já a rir-me, como não? Olha que me levanto, dá-me lá água. Acorda, dá-me e no dia seguinte ri-se como perdido porque não se lembra de nada disto. 

- vou ao WC. 

- shhh, (coisas indecifráveis), vais depois. 

- acendo a luz, e lá desperta e me supervisiona como se fosse uma criancinha.  

Entre a preocupação e o sono, o primeiro round ganha por milhas o soninho e a vontade de continuar a dormir. Podia ser pior. 

03
Nov16

Ele como concorrente do Masterchef

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Quando o conheci, há seis anos, não cozinhava um ovo. Não tinha aprendido e não tinha por hábito cozinhar, vivia com os pais e não tendo necessidade, não tinha curiosidade. Como vivia sozinha, começou a aprender comigo, fazíamos uns pratos lá em minha casa. Quando fomos viver juntos foi importante para ambos que ele aprendesse. E aprendeu. Já fizemos pratos gourmet, beef wellington,  vieiras, entre muitos outros. Às vezes cozinho eu, às vezes ele, a nossa modalidade preferida é cozinharmos os dois juntos enquanto conversamos e rimos. 

Ele no Masterchef: 

Desafio de 60 minutos, todos frenéticos na cozinha, correria para a despensa, electrodomésticos a saltar, facas afiadas, saltear, refogar, grelhar, os molhos, não esquecer os molhos. O tempo a escassear, os últimos preparos ,  escolher o prato, ter a certeza que está tudo cozinhado na perfeição. Acaba o tempo, o alívio na cara de todos, uma última análise crítica, do que falhou e do que poderia estar melhor. E ele? Como se terá safado ele? Ele acabou de colocar o portátil na bancada e seleccionar a receita, e o tempo acaba mesmo quando ele acabou de seleccionar a lista do Spotify para o acompanhar enquanto cozinha. Levanta a cabeça, e percebe que o desafio já terminou...

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