Viver uma gravidez de risco #7
Estar quase no fim não vale nada nem dá garantias. Foi esta a lição duma hemorragia que celebrou a entrada nos 9 meses. Uma ida à urgência que nos fez gelar o sangue. No final de um dia de consulta, antes de ir para a cama sinto qualquer coisa, verifico que é sangue. Não era sangue vivo nem abundante, mas era sangue. Não vos sei descrever o que senti, o que pensei, os flashbacks na minha cabeça de outras hemorragias, o pânico. Foram mil socos no estômago, foi ansiedade, foi tudo. Sim, já estava quase no termo, e o desfecho era mais favorável, ainda assim, imprevisível. Para ele ficou mais real quando à saída para a urgência lhe disse para trazer já as malas, poderia lá ficar internada, poderia estar a entrar em trabalho de parto, sabia lá eu. Para me stressar ainda mais, era à hora de ele estar por aqui a mexer e aos pontapés e há 15 minutos que nada. Mal entrei e disse que tinha hemorragia, fui logo levada para a sala de "cardio" para fazer o ctg. Na minha cabeça desde que senti o sangue a sentar-me no cadeirão passaram horas. Mal me colocaram o aparelho ouvi o batimento, e senti a maior descompressão da vida, daí a sentir o movimento foram dois minutinhos. Um pequeno alívio. O ctg revelou muitas contracções, só sentia metade delas, na consulta com obstetra, fomos ver se havia descolamento da placenta ou outros sinais. Nem descolamento, colo íntegro, sem dilatação e fui brindada com a melhor ecografia até agora, estava de frente, vi olhos abertos, bochechas e língua, estava a praticar mamar, tranquilo e completamente alheado do stress do lado de fora da sua bolha. Só tive alta e vim para casa porque vivemos perto, o dia seguinte foi repouso absoluto, voltei a mais cuidados. Não posso mesmo relaxar um minuto, o primeiro trimestre fechei-o com una síncope e queda, bati de cara, passei o segundo trimestre cheia de medo e com mais algumas ameaças de desmaio, que soube gerir. No terceiro trimestre fui tendo sempre cuidado, nos dias em que me senti melhor tive que me refrear. Fiquei sempre com a sensação que poderia fazer um pouco mais e aproveitar melhor, uma sensação muito frustrante de tédio/repouso/vontade de fazer mais. Esta semana tive a confirmação que não posso mesmo facilitar e que fiz bem até agora. Não posso mesmo ignorar os meus instintos. Fui fazendo o mínimo, e cada vez que me sentia mais cansada, ou que estava há mais tempo de pé, ia deitar-me. Desta vez estava com ele na cozinha e ignorei o pequeno cansaço, só faltava acabar umas refeições, não me vim deitar: o resultado foi a ida à urgência e o susto monumental. E pronto, mais uma semana de maior repouso, porque quero muito conhecer aquelas bochechas mais fofas que vi ontem mas só depois das 38.