Ainda sobre ontem
Li tanta tanta coisa tonta que até fiquei abafadinha dos olhos.
Para começo de hostilidades discordo fundamentalmente das prendinhas, florzinhas e jantares com o mote do dia da mulher. Para mim, e sublinho para mim, este dia não é nada disso.
É uma triste lembrança das lutas que foram precisas para chegar até aqui, e aqui em Portugal, e do que há ainda para fazer em países como nosso. A desigualdade ainda está viva e de boa saúde. Com a pressão para engravidar, nos empregos, com a falta de oportunidades de progressão, com os ordenados desiguais. Com coisas muito simples de que uma mulher não é assertiva, é mandona, é um cabra, e um homem nas mesmas condições é um líder. Como se pode ver nas presidenciais americanas em que a Hillary Clinton é publicamente acusada de ser esganiçada e gritar, e nada é dito aos homens, querem ver que o Trump não grita, esbraceja, atira água e ainda fala no tamanho do seu pénis e nada é dito acerca disto na imprensa. Mas principalmente do que ainda se passa em tantos países do mundo, em que as meulheres não gozam de uma cidadania plena de direitos.
Desde o super mulheres, especiais, rainhas, princesas, deusas, melhores, mais completas devido à capacidade biológica de gerar um filho e amamentar. Nada mais absolutamente tonto do que a mulher é melhor porque gerou vida e amamentou. Estúpido mesmo. A roçar a ignorância, há mulheres inferteis, há mulheres que escolhem não ter filhos, há mulheres que escolhem adoptar, há mulheres que escolhem não amamentar. Há mulheres que dedicam a vida aos outros, e são por isso quê, menos mulheres? Limitar ou engrandecer uma função biológica predeterminada deve ser do mais redutor e mais contra a igualdade de género que já ouvi. Conseguem engravidar sozinhas? Quer parecer-me que não. Sem um homem não vão lá, não nos reproduzimos por gemulação.
Mãe é mãe. Pai é pai. Filho é filho, tio é tio, and so on. Argumento parvinho de todo. Quantas são más mães, ausentes, egoístas, castradoras, que abandonam e maltratam os filhos? Quantas mulheres são as únicas culpadas pela falta de ligação do pai ao filho, que não lhe permitem exercer o papel de cuidador de forma igual? é preciso fomentar a ligação do pai ao filho e permitir que saibam rotinas, necessidades, é preciso também que saibam libertar o controlo do filho. Querem fazer tudo nos primeiros anos, depois o cansaço abate-se sobre elas e passado uns anos estão a atirar esse cansaço e controlo exclusivo como arma de arremesso em discussões.
São estas coisas parvoinhas que dão cabo do dia da mulher e não há um único ano em que a utilidade do dia não seja posta em causa.