Contra a maré
Sou um bocado hipster, confesso. Quando vejo demasiado alarido para um lado, tenho uma certa tendência em manter um pé atrás. Mário Soares tinha 92 anos, não foi uma perda chocante, nem insubstituível, nem perto disso. Teve um papel relevante na história do nosso país, sem dúvida alguma. Foi uma das grandes vozes contra a ditadura, sem dúvida também, luta e sacrifícios inquestionáveis. Daí a pai da democracia e outros exageros, já não, lamento. Tenho lido e ouvido muito exagero, muito próprio do nosso país, devido à morte, parece que levou a cabo o 25 de Abril e fundou a democracia sozinho, somos um povo muito dado a estes extremos. A parte mais notável da sua vida e a que admiro é a luta e resistência, à ditadura e ameaça de nova ditadura após o estado novo. Além da luta pessoal lembramos como rosto de tantos outros anónimos, porque estas lutas não se fazem a solo, é sim o pai do PS, a democracia recente tem demasiadas figuras para ele ser o pai. Nos seus últimos vinte anos, na minha opinião teve um papel triste na nossa história, favorecimento próprio e familiar, enriquecimento à custa de todos nós em negociatas, isenções de impostos e fundações, acumulação de benefícios e riquezas. E sentir-se acima da lei, no célebre, sr guarda, desapareça. Esteve à frente do país em dois resgates muito próximos, teve muito mérito político após a ditadura mas teve muitas falhas no poder e na vida pública depois disso.