desmontar argumentos tipificados
Há coisas mais importantes.
Não o há sempre? A não ser que se fale de vida e morte, ou necessidades básicas, não há sempre coisas mais importantes? Que raio de argumento. Prioridades,são isso mesmo, prioridades, não implicam que nos foquemos apenas num aspecto da vida. As prioridades são uma coisa curiosa. São uma construção socio-cultural e como tal variam, além de que são uma construção pessoal, variam em todos nós, daí que ache estranho que alguém ache que as suas prioridades têm de ser as do mundo. Se eu defender a vida de golfinhos, quer dizer que condeno a morte de elefantes? Se eu me associar a causa de sem abrigos, sou contra os direitos dos animais? A mais comum, se eu defender os animais quer dizer que não me importo com as pessoas?
O argumento das coisas importantes é muito perigoso. Porquê? Porque é muito versátil. Nos EUA, no fim da escravatura, podiam os negros não ter direito a voto, porque afinal há coisas mais importantes e até nem eram escravos. O mesmo para o direito ao voto nas mulheres. Não havia coisas mais importantes? Como literalmente o saneamento básico, e as doenças.
Por esta linha de pensamento não se subsidiava artes nem desporto. Porque afinal há pessoas abaixo do limiar da pobreza e vai haver sempre. Não havia programa espacial, espectáculos, hobbies, férias. Um sem número de tecnologia que nos facilita a vida e nos entretém desapareceria, porque afinal há coisas mais importantes.