Perda de privilégios
Com o susto na urgência, e mesmo a grande sorte no meio do azar. E as minhas piadas mesmo sentadinha na cadeira de rodas e feita num oito, o meu público foram quatro médicos. Os gajos riram, as gajas estavam entre o choque e o riso. Bom, depois disso vieram os cuidados redobrados e muitos dias em que me senti uma criança que não faz nada. Ele não me deixava fazer nada sozinha, foi um amor, sempre preocupado. Mas, há sempre um mas. Não podia levantar-me a meio da noite sozinha sem o acordar para me acompanhar. E a insistência dele em me ajudar quando está acordado transforma-se em persistência para continuar a dormir quando faço o que ele insiste que é acordá-lo.
- Tens aí água?
- Sim (modo zombie)
- dás-me por favor?
- não.
Eu já a rir-me, como não? Olha que me levanto, dá-me lá água. Acorda, dá-me e no dia seguinte ri-se como perdido porque não se lembra de nada disto.
- vou ao WC.
- shhh, (coisas indecifráveis), vais depois.
- acendo a luz, e lá desperta e me supervisiona como se fosse uma criancinha.
Entre a preocupação e o sono, o primeiro round ganha por milhas o soninho e a vontade de continuar a dormir. Podia ser pior.