Estar quase no fim não vale nada nem dá garantias. Foi esta a lição duma hemorragia que celebrou a entrada nos 9 meses. Uma ida à urgência que nos fez gelar o sangue. No final de um dia de consulta, antes de ir para a cama sinto qualquer coisa, verifico que é sangue. Não era sangue vivo nem abundante, mas era sangue. Não vos sei descrever o que senti, o que pensei, os flashbacks na minha cabeça de outras hemorragias, o pânico. Foram mil socos no estômago, foi ansiedade, foi tudo. Sim, já estava quase no termo, e o desfecho era mais favorável, ainda assim, imprevisível. Para ele ficou mais real quando à saída para a urgência lhe disse para trazer já as malas, poderia lá ficar internada, poderia estar a entrar em trabalho de parto, sabia lá eu. Para me stressar ainda mais, era à hora de ele estar por aqui a mexer e aos pontapés e há 15 minutos que nada. Mal entrei e disse que tinha hemorragia, fui logo levada para a sala de "cardio" para fazer o ctg. Na minha cabeça desde que senti o sangue a sentar-me no cadeirão passaram horas. Mal me colocaram o aparelho ouvi o batimento, e senti a maior descompressão da vida, daí a sentir o movimento foram dois minutinhos. Um pequeno alívio. O ctg revelou muitas contracções, só sentia metade delas, na consulta com obstetra, fomos ver se havia descolamento da placenta ou outros sinais. Nem descolamento, colo íntegro, sem dilatação e fui brindada com a melhor ecografia até agora, estava de frente, vi olhos abertos, bochechas e língua, estava a praticar mamar, tranquilo e completamente alheado do stress do lado de fora da sua bolha. Só tive alta e vim para casa porque vivemos perto, o dia seguinte foi repouso absoluto, voltei a mais cuidados. Não posso mesmo relaxar um minuto, o primeiro trimestre fechei-o com una síncope e queda, bati de cara, passei o segundo trimestre cheia de medo e com mais algumas ameaças de desmaio, que soube gerir. No terceiro trimestre fui tendo sempre cuidado, nos dias em que me senti melhor tive que me refrear. Fiquei sempre com a sensação que poderia fazer um pouco mais e aproveitar melhor, uma sensação muito frustrante de tédio/repouso/vontade de fazer mais. Esta semana tive a confirmação que não posso mesmo facilitar e que fiz bem até agora. Não posso mesmo ignorar os meus instintos. Fui fazendo o mínimo, e cada vez que me sentia mais cansada, ou que estava há mais tempo de pé, ia deitar-me. Desta vez estava com ele na cozinha e ignorei o pequeno cansaço, só faltava acabar umas refeições, não me vim deitar: o resultado foi a ida à urgência e o susto monumental. E pronto, mais uma semana de maior repouso, porque quero muito conhecer aquelas bochechas mais fofas que vi ontem mas só depois das 38.
Estou em casa desde o início, desde o teste positivo. Nunca cheguei tão longe, já estou no último mês. Já vos disse aqui a dificuldade que isso é. Sou grávida a tempo inteiro, foi só isso que fiz. Nunca reprovei, nem a disciplina quanto mais um ano inteiro, nunca estive desempregada, nunca estive inactiva. Tive que lutar comigo para me convencer que tinha de ser assim, dias "desperdiçados". Dias muito mais solitários, não indo trabalhar não falo com pessoas como estava habituada, claro que há chamadas e mensagens, mas não é, de todo, a mesma coisa, surpreendentemente reagi muito bem, não deprimi, não fiquei afectada, nem descontei nele, houve dias mais fáceis, outros mais difíceis. Especialmente nesta sociedade em que vejo a maior parte das mulheres determinadas em mostrar que a gravidez não é doença. A minha é. Mulheres que viajam, fazem desporto de alta intensidade , trabalham, com uma carreira, e têm vida social. Ver blogs nesta altura então, tem sido um esfregar na minha cara, gravidezes com mais vida social do que a minha vida normal. Eu tive de abdicar disso tudo, não importava como estivesse a minha carreira e os meus planos e ambições, tive de colocar isso tudo de lado, durante (espero eu, peço) oito meses mais a licença de 5. Podia estar prestes a ter uma promoção (ahahahah, agora ri-me porque não há valorização nenhuma onde trabalho, penalização há muita, mas reconhecimento tá queto). Não sei o que vou encontrar quando regressar, tinha projectos em curso, ideias, grupos de trabalho, a vida não pára, só porque eu parei. Mais ironia, mal tive que parar surgiram duas oportunidades fora do local de trabalho às quais não me pude dedicar, coisas para as quais trabalhei desde o início da minha carreira. A biologia é uma cabra, ou abdicava de filhos, ou colocava o resto da minha vida em suspenso. Fomos falando disto os dois, a maternidade e o planeamento familiar são uma arma de controlo das mulheres, não há como fugir. Ele está comigo nisto a 100%, tem sido tudo para mim, mas a verdade é que ele vai trabalhar, pode praticar o desporto dele, tomar café com amigos à vontade, comer e beber sem restrições. Eu disse adeus a tudo isso, com o bónus de medicamentos e mais ansiedades.
A ironia.
Sou e sempre fui muito independente. Feminista (a sério, pela definição de dicionário e não como as capazes). Pratiquei desporto. Comecei a namorar cedo, e lá veio aquela pressão típica de miúdos de 16, para não ir aos treinos, para faltar às aulas. Muito calmamente lhe expliquei que tinha uma vida antes dele e que ia continuar a ter, que a minha prioridade era a família e a escola, que tinha amigos e praticava desporto, se quisesse ocupar um espaço na minha vida que gostava muito mas para me "exigir" faltar a qualquer um dos anteriores ficávamos já por ali. Continuei a ter momentos só com as amigas, com ele e outros nnamorados, saí e fui de férias com amigas, não me privei de nada, até porque nunca foram incompatíveis. Até tinha família minha a perguntar, "com quem vais jantar? Esta e aquela amiga. Mas não tens namorado? Tenho, e?"
Fui viver sozinha aos 26, ainda a frequentar o mestrado, uma vez mais família perguntou: mas estás chateada com a tua mãe? Claro que não, queria o meu espaço, estava mais que na altura de ser mais independente. Foi nessa altura que comecei a namorar com ele, e acabamos por ir viver juntos, ele ainda vivia com os pais. Os amigos sempre a "pressionar" o casamento e os filhos. Nunca me deixei permear por isso, faço as minhas coisas no meu timing.
E eis que a vida decidiu que deixasse por completo a minha independência, o meu trabalho, a minha carreira para estar grávida, vulnerável e frágil.
Não conseguia passar o limiar das 7 semanas grávida (de forma consciente, faz-se o teste às 4). Agora faltam menos de 7 semanas para as 40. Penso nisto algumas vezes. Nem consigo decifrar todas as emoções que me provoca. Continuo a medo, reticente mas quase consigo tocar a realidade.
Com consulta. Quase fui atropelada na passadeira à porta da instituição de saúde. Já estava quase a meio. O carro estava parado e avançou mesmo para mim. Só com muitos berros e uma guinada e um salto nosso à última não me acertou, e mesmo assim o retrovisor ficou a milímetros da barriga. A lata do grandessímo anormal que havia de bater com a testa repetida ainda que levemente numa parede foi que "não me viu". Não me viu porque em vez de olhar para a frente e para a passadeira antes de avançar sobre ela, estava já a olhar para o cruzamento a ver se não parava para virar à esquerda. Juro-vos que foi um triz, que não lhe enfiei um soco através da janela aberta, dirigi a minha raiva com um murro no retrovisor. Não sei se por isto, se pela minha hipotensão e taquicardia, se por uma sala de espera cheia e sem ar condicionado, chegada à consulta senti-me mal.
É uma montanha russa, sempre. Depois de três abortos espontâneos, não é possível que seja doutra forma. Os medos nunca desaparecem, a ansiedade gere-se, não se controla. Os sentimentos, medos não se controlam. Todos os dias de consulta são precedidos de insónia e mais sintomas, os dias da consulta, que correram sempre bem são seguidos de vómitos muito fortes, indisposição, dor de cabeça, digestões tão lentas que resultam em vómitos. Nunca passa. Tem uma parte de racional e irracional, da primeira vez no dia que começou a hemorragia passado umas horas abortei, da segunda vez - a pior coisa que vivi, foi violento e cruel - estive oito dias de repouso que não pararam a hemorragia e acabei por abortar devido a perda excessiva de sangue, à terceira fui apanhada desprevenida na consulta, o que trouxe outro tipo de medos. Isto está e estará gravado em mim. Por isso tive relutância em anunciar a gravidez, tanto aqui como na minha vida pessoal, não queria mudar um milímetro, como estava a correr bem. Tive e tenho muita dificuldade em dizer o bebé, em dizer o nome. Tive muita dificuldade em começar a fazer as compras, em começar a colocar tudo no quarto. Acho que ainda tenho pouca coisa. O investimento emocional é cada vez maior, crescendo o medo proporcionalmente. Falo disso aqui numa tentativa de exorcizar os medos, que vou gerindo, aliás que vamos gerindo, conversamos muito os dois, ele também sente o mesmo, ainda nos é esquisito dizer o bebé, fazer planos. Mas isto não interfere com os sentimentos bons, sentimos muita felicidade, não interfere com as celebrações, optámos por celebrar toda e qualquer conquista, mimámo-nos enquanto casal depois de cada boa notícia, de cada consulta, de cada marco. Temos tido dias extraordinários, estamos a aproveitar esta fase o mais possível. Para mim a gravidez nunca foi um objectivo, é um passo necessário, tem coisas muito muito bonitas, é único mas é um meio para um fim, e no meu caso implica medicação extra, cuidados extra, muitas limitações extra, tive a felicidade de começar a sentir os pontapés às 16 semanas, o que ajudou muito a gerir a ansiedade.
Um termo novo e catita para dizer que vamos fazer uma escapadinha os dois antes de nascer o bebé, vamos agora na Páscoa. Nada de loucuras, porque não posso andar de avião, nem fazer viagens longas de carro. O importante é sairmos da rotina, não nos preocuparmos com refeições ou horas e aproveitamos a companhia um do outro sem deveres domésticos. O sítio está escolhido e estou ansiosa porque já estou a precisar há muito tempo, aliás agora em Março tinha sido óptimo, porque já estava a acusar cansaço de estar sempre em casa, mas também já falta pouco.
Isso agora é que vai ser muito tempo. Vais ler imenso, ver imensas séries, fazer os projectos em falta, dedicar ao blog, relaxar, fazer Yoga, vai dar tempo para tudo. Pois. Só que não. Na verdade, acredito que fazer planos e ser produtivo aconteça quando há um prazo fixado, uma semana ou um mês e não há condicionantes de saúde. O que aconteceu foi que dormi sempre mal, o que obrigava a fazer sestas porque o sono é importante até para o normal desenvolvimento do bebé. Tive sempre metas, nunca tinha passado do primeiro trimestre, logo as primeiras 9 semanas foram uma névoa de preocupação, ansiedade e gestão de sintomas. Fui lendo, pouco, fui vendo séries, poucas, fui postando aqui sobre outras coisas para me distrair, pouco, fui lendo coisas sobre a minha profissão, poucas. Tudo pouco. Li sobre gravidez e sintomas, isso sim, muito. E debatia-me com a inactividade, com a produtividade. Nunca me vi em casa afastada da profissão e dos projectos que tinha e sem liberdade/saúde para sair à vontade desta forma e por tanto tempo.
Estou em casa tenho de ser produtiva com o meu tempo.
Mas... espera, estou com gravidez de risco não me posso esticar, a ideia é me focar nisto senão o estado não me pagava. Não me posso preocupar. Se estou em casa de repouso a ideia é não me stressar nem me meter a fazer nada. A validação disto foi o que me aconteceu no fim do primeiro trimestre quando me permiti umas horas mais descansada e ia fazer umas compras sozinha que me valeram umas horas na urgência e um susto valente. Muitos foram os dias em que debater-me com dores esquisitas, dores de cabeça persistentes, náuseas e vómitos ocupava-me o dia. Quando há uns tempos me senti melhor, o tempo custou mais a passar, e até me esquecia e lá fazia qualquer coisa simples como arrumar a loiça da maquina, lá vinha uma dor e ficava de cama com consciência pesada e preocupada. Não ia agora deitar tudo a perder, se correu bem foi com repouso, não vou agora estragar tudo: tenho sempre de me lembrar disto. O truque é não deixar que a ilusão de uns dias melhores me levem a arriscar tudo. E pronto, este debate comigo própria, de produtividade só acontecia duas a três vezes por dia, todos os dias nestes últimos 5 meses e pouco.
Os enjoos matinais, para começo de conversa, matinais uma pinóia. AH, isso é no primeiro trimestre. Huhum. Tive náuseas, e vómitos da semana 6 à semana 24 em 90% dos dias. Uma vez mais, podia ter rentabilizado este dom e ter filmado as cenas do exorcista. O que me enjoou? TU-DO. Acordar, levantar, fome, enfartamento, odores maus, odores de que gostava como o cheirinho de cevada, os leites vegetais (que odisseia essa), tofu (nunca mais na minha vidinha experimento), carne por cozinhar, carne cozinhada, a comida propriamente dita, ou seja olhar para comida, dobrar-me, virar-me, comer uma garfada maior de comida: 1001 razões para vomitar, até sentia o estômago a comprimir para rejeitar a comida. O crescendo era: se calhar comia, tenho fome, estou varada de fome, não posso comer, estou enjoada, VÓMITO, isto no espaço de um minuto. Descobri que comer é um acto social, porque todos os dias sem falha vinha a náusea antes da hora do almoço, mas se por acaso tinha consulta e almoçava fora sentia-me muito bem. E segunda parte disto das náuseas/vómitos, com a progesterona a digestão fica mais lenta, portanto às vezes três a quatro horas depois da refeição, vomitava tudo direitinho, que grande imagem hein? Bom, vomitar era um exercício giro e tal, mas estou grávida, o bebé tem de crescer, por isso lá tinha de me obrigar a comer depois de cada brincadeira. Em nenhuma queima das fitas vi ou fiz semelhante. Esqueci-me da realidade pré gravidez, achei que ficaria assim para sempre, a sério, era demasiado. Até que acalmou, e a semana passada comi e algo não me soube bem, tive medo que algo estivesse estragado e me fizesse mal e tentei vomitar, a complicação que foi conseguir. O poder das hormonas é assustador.
O primeiro trimestre foi o período de maior angústia, sem dúvida, não sei como o tempo passou, porque foi completamente tingido a preocupação, evitamos praticamente todas as confraternizações de amigos e família. Os sintomas são mais ou menos esperados, mas muito pouco claros, recorri ao amigo Google, e a uma aplicação de telemóvel que foi uma companhia indispensável, o Nurture. Nesta aplicação temos o desenvolvimento do Feto/embrião a cada dia, os sintomas esperados, a sua explicação e muitos testemunhos de várias mulheres, vamos preenchendo o diário com todos os sintomas que vamos sentindo, e préviamente colocamos a nossa história, o que selecciona histórias parecidas com a nossa, acreditem que ajuda muito, pessoas que passaram pelo mesmo. Quanto aos sintomas foi a melhor coisa, quando tinha um sintoma novo que me assustava, não tardava um/dois dias que a aplicação explicava o que era. Para mim, as dores, eram assustadoras, recolhia sempre em repouso absoluto à mínima dor, porque os dois primeiros abortos começaram com dor. (Ainda hoje o faço, na dúvida, repouso maior.) O útero a crescer, a obstipação, e gases causam o mesmo tipo de dor mas não tinha como distinguir entre as dores. A obstipação é um problema real e recorrente a gravidez toda. As dores nas ancas, que me acordavam, normal também, é o crescimento. As dores nas virilhas, como um relâmpago, isso é que assustou mesmo muito, não imaginam, lá estava na app, dores nos ligamentos que sustentam o útero à parede abdominal, normal também, consequência do crescimento. As náuseas e vómitos, foram bem marcados. Como da terceira gravidez os sintomas pararam ao mesmo tempo que a evolução da gravidez, celebrámos os vómitos. Sério. É isto. Ficava agoniada, vomitava e depois ficava feliz por ter vomitado. Diariamente. Mandava mensagem para ele, todos os dias, vomitei, reposta dele: Yay. Até sentir o bebé, às 16 semanas, era este o meu barómetro de estar tudo bem, muito falível, eu sei, mas era um óptimo placebo. Até que os vómitos começaram a ficar muito agrestes e ficava com medo de estar a fazer demasiada força ou algo no género.
O nosso relacionamento não sofreu com a gravidez de risco, fortaleceu-se (ainda) mais. Eu não posso fazer esforços, portanto é ele que faz praticamente tudo em casa, até a companhia que lhe fazia durante a elaboração do jantar sofreu, as náuseas que sofri impediam completamente cheirar carne e peixe por cozinhar. O que valorizo é a atitude dele, o carinho, porque sacrifícios estamos a fazer os dois, para mim o normal num relacionamento é isto. Quem diria que não poder aspirar quando me apetece me iria custar. Escolhi-o por ele ser assim, não há ajudas, há uma casa para cuidar e somos dois que o fazemos de igual modo porque ambos temos empregos a tempo inteiro. Cada relacionamento funciona à sua maneira, há muitas formas de resultar, mas para mim era impensável uma relacionamento em que eu tratava de tudo da casa e o que ele decidisse fazer era uma "ajuda" e eu ficaria agradecida, ou até tinha muita sorte. Ele anda sobrecarregado, sem dúvida, mas eu também, eu não posso trabalhar nem sair, passo o dia sozinha, ainda que fale com amigos, mas não é o mesmo que sair para trabalhar todos os dias, não posso beber/comer o que me apetece, depois do episódio da urgência até para tomar banho tinha de esperar que ele chegasse a casa.
Entendi partilhar a minha experiência, não sou caso único e talvez possa ajudar alguém que esteja a passar pelo mesmo. Risco clínico na gravidez em termos muito simples e muito gerais acontece nos casos em que a mulher tem maior probabilidade de ter (ou já tem) doença que afectam a sua saúde/vida e do embrião, e/ou nos aos em que há maior probabilidade de haver complicações no pré e pós parto englobando um grande número de situações.
Infelizmente não sei o que é uma gravidez normal, não tenho termo de comparação quanto a sintomas, emoções e ansiedade. É uma altura de muitas dúvidas, muita ansiedade e muitas interrogações para todas as mulheres, só que no meu caso, há razão para medos, há razão para alarme, por três vezes vi a gravidez e com ela todas as possibilidades, serem destruídas. O risco de aborto espontâneo é maior do que numa gravidez normal e a ansiedade é mais difícil de gerir. E é preciso desenvolver força e sentido de humor, felizmente para mim já tinha bastante dos dois. Como vos disse nos outros testemunhos não há papel que não diga aborto de repetição. Nem recibo de vencimento que não diga interrupção voluntária da gravidez, o que nem corresponde à verdade. Os relatórios das minhas ecografias actuais têm um item "história obstétrica" que diz: quatro para zero. Estou a levar uma abada, mas preparem-se para a minha vitória triunfal.
No meu caso, tenho gravidez de risco porque tive três abortamentos espontâneos no primeiro trimestre, infelizmente dois casos foram hemorragias em semanas muito complicadas de trabalho, o meu trabalho é muito exigente física e mentalmente, durante a gravidez há áreas em que não posso estar.
O teste positivo é um pequeníssimo passo nesta viagem. Engravidar sempre foi fácil para nós, dois mesitos a tentar. Todos os testes pré concepcionais efectuados após os dois abortamentos foram normais. Mesmo assim o consenso médico na altura era fazer protocolo medicamentoso, lovenox, cartia e progeffik todos os dias desde o dia 1 da gravidez. Fiz o protocolo mas mesmo assim na terceira gravidez sofri novo aborto, mas sem hemorragia, descobri na consulta das dez semanas que a evolução tinha parado às nove semanas, tive que ser internada.
O primeiro trimestre tornou-se um obstáculo inexpugnável até esta tentativa. Uma montanha que tive de conquistar. O primeiro trimestre trouxe consultas e ecografias quinzenais no hospital, a medicação que referi, repouso, zero stress, nada de esforços nem pegar em pesos. Trouxe dias compridos, fiquei de baixa com gravidez de risco mal tive o teste positivo, trouxe verificação incessante, talvez a cada hora, dia e noite por hemorragia. Não ter hemorragia não me sossegava, porque podia acontecer como da última vez e ser gravidez não evolutiva. Mas compulsivamente verificava a existência de sangue. Cada espirro, tosse, cólica, cada dor, me fazia tremer de medo. A rotina de primeiro trimestre era acordar tarde, lidar com náuseas e vómitos, insistir para comer saudável, pequena caminhada, fazer meditação guiada com YouTube que acabava na sesta de uma horita, super necessária a todos os níveis. O primeiro trimestre acabou, estava tudo bem, tinha indicação para parar o progeffik dali a pouco tempo. Respirei de alívio, por duas horas, nesse mesmo dia da consulta senti-me mal, Desmaiei, INEM para o hospital, um susto enorme, horas de angústia, sem consequências de maior a não ser (ainda) mais cuidados, quinze dias com repouso ainda maior. Acabou-se caminhada sozinha, conduzir, banho com supervisão e maior cuidado, porque a reação vaso vagal voltou a acontecer mais vezes, (e em retrospectiva já tinha acontecido no primeiro trimestre) identifiquei melhor, sentada ou deitada, e não cheguei a desmaiar mais desde Dezembro.
Partilho do mesmo sentimento; a primeira vez que a...
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