Tenho um super-poder
Nem sei como nunca vos tinha dito isto. Há toda aquela coisa do super-herói querer conservar a sua identidade. Talvez tenha sido por isso. E na banda desenhada e nos filmes o disfarce é quase sempre terrível, uma míni-mascara que só tapa os olhos, no caso do super homem é só tirar os ósculos e fazer um caracolete com a repa. Mas isso é o caso dos super poderes fixes, que são efectivamente úteis.
O meu super poder é completamente irrelevante.
Eu detecto, em qualquer lugar, ajuntamento, ou fila, quais os indivíduos que vão fazer algum tipo de coisas de esfrangalhar os nervos à malta, e custar tempo aos demais. Não falha. Quer seja serem conversadores de coisas inúteis em filas giras como segurança social, ou finanças, em que a perda de tempo já é mais de uma hora. Eles bufam e bufam, mas chega â sua vez e têm todo o tempo de mundo para gastar a falar do gato do vizinho. Quer seja o indivíduo que não levou o documento necessário para a situação em concreto e vai tentar contornar a coisa, gastar uns bons 15 minutos de latim para nada, porque é mesmo necessário. O engraçado que escolhe a fila mais pequena e tenta tratar do assunto que não é dali a todo o custo. O distraído que tem meio mundo atrás dele, mas faz tudo a passo de caracol. A alma que não sabe onde tem os papéis que a fila de uma hora já lhe deu oportunidade de reunir. A criatura que só quer fazer uma perguntinha, mas que quer é despachar-se sem ter de esperar. O esperto que vai tentar furar a fila, porque claro está acima da reles plebe que é o resto do mundo (na sua cabecinha apenas).
O meu super poder é este. Identifico estas almas todas antes de prevaricarem. Qual a utilidade disto perguntam vocês. Nenhuma, a não ser acicatar-me o nervoso miudinho.