Trabalhar no público é uma maminha
Exceptuando, talvez, aquelas incontáveis vezes em que pedi para tirarem resíduos de material de consumo hoteleiro/escritório tóxico, inflamável e explosivo do corredor de acesso à copa. Fui pedindo, avisando, ao longo de anos. Até porque até nojo metia, era pura e simplesmente negligência. Até que engravidei segunda vez. Um certo dia 8 e tendo em conta aquele primeiro aborto e a exposição ao produto de limpeza tóxico, me fartei. Era domingo e estava a trabalhar para folgar em correndo bem na quarta feira a seguir. Se desse claro. Podia ser avisada terça que afinal o serviço não me podia dar folga. Lá escrevi um email, outro. Desta vez com ficha de dados se segurança do produto, manual da administração pública, normas de higiene e segurança, imperativos legais, todos a dizer a mesma coisa, aquilo não pode estar assim, é perigos, é tóxico. Dois dias depois pergunto à chefia o que estava a ser feito para cumprir as normas. Berros, gestos, berros. Não tira aquilo dali e não gosta da minha atitude. Respondi baixo e calma por fora, mas a arder por dentro: comigo falas baixo e de braços ao lado do corpo, Essa sexta vou fazer análises, de manhã, e vou trabalhar a tarde, para sair às 22h, horário diurno, diz o estado. A meio da tarde vou a casa de banho, vejo sangue. Digo o que se passa a chefia porque vou ter de ir embora. Urgência. Repouso absoluto. A hemorragia não para. Ao final de uns dias expeli o saco e o embrião. Dia 19 desse mês.